A Afasia é uma perturbação de linguagem resultante de uma lesão cerebral, caracterizada por dificuldades nas modalidades da linguagem: falar, compreender informações verbais ou não verbais, ler e escrever, reconhecer/identificar figuras e objetos, podendo ainda surgir défices ao nível do cálculo.
A causa mais comum é um Acidente Vascular Cerebral (AVC) (cerca de 25% a 40% das pessoas com acidente vascular cerebral apresentam afasia). Outras causas comuns são os Traumatismos crânio-encefálicos, tumores cerebrais ou problemas neurológicos.
As afasias podem ser classificadas com base na fluência da fala, capacidade de compreensão auditiva do material verbal simples e complexo, repetição e capacidade de nomeação, em 6 categorias diagnósticas:
1. Afasia Global (expressão e compreensão afetada)
2. Afasia de Broca ou expressiva
3. Afasia de Wernicke ou de compreensão
4. Afasia de Condução
5. Afasia anómica
6. Afasia transcortical (motora, sensorial ou mista)
A avaliação da pessoa com afasia é um aspeto muito importante em todo o processo terapêutico. Devido às comorbilidades, o indivíduo é, frequentemente, submetido a diferentes avaliações por parte dos vários profissionais de saúde que com ele intervêm.
A avaliação é uma apreciação organizada, com objetivos direcionados para os seguintes componentes comunicativos inter-relacionados: cognição, linguagem e pragmática. A avaliação é feita para determinar as capacidades e incapacidades do indivíduo e perceber como essas áreas podem evoluir.
Os objetivos de intervenção terapêutica são específicos para cada pessoa com afasia, tentando-se melhorar e restaurar as funções da linguagem afetadas, assim como encontrar estratégias que facilitem a comunicação quer com os profissionais de saúde, quer com os familiares/amigos da pessoa com afasia.
A recuperação da afasia é influenciada pelo tipo de afasia, a gravidade da lesão, o tempo de evolução, a capacidade cognitiva e estado emocional e/ou comportamental, e em menor grau, a idade, escolaridade e saúde geral do paciente.
Uma das principais dificuldades associadas à avaliação cognitiva das pessoas com afasia, é o facto da grande maioria dos testes neuropsicológicos envolverem respostas verbais e exigirem a compreensão de instruções verbais, colocando essas pessoas em desvantagem quando comparadas com populações não-afásicas.
É também, importante perceber que a cognição (o nível de atenção, a memória, a capacidade de aprendizagem, as funções executivas, etc.) e alterações emocionais terão um impacto direto e determinante na reabilitação da linguagem. Globalmente a recuperação da linguagem é acompanhada pela melhoria do desempenho do estado cognitivo. Esta recuperação pode ser maximizada com a intervenção do Terapeuta da Fala, que deverá iniciar os tratamentos assim que possível.
Um dos principais problemas na reabilitação da afasia é a falta de consciencialização da doença (anosognosia), tanto pelo paciente quanto pela família. Conscientizar o paciente no início pode ser muito difícil, mas a família deve receber todas as informações necessárias para entender a patologia para que ela possa colaborar ativamente na reabilitação.
Existem vários métodos e técnicas para melhorar a comunicação em pacientes com afasia, como por exemplo:
1.- Terapia por Restrição e Indução do Movimento (TRIM) – Esta terapia é uma extrapolação de um tipo de fisioterapia para hemiplegia, em que o paciente é “forçado”; a usar o lado afetado do corpo, porque o lado não afetado foi restringido. Aplicando este princípio a funções de comunicação, uma pessoa com afasia é estimulada a não usar gestos para garantir que usa a linguagem falada. Este tratamento costuma ser mais intensivo do que os programas de terapia típica em menos sessões. Normalmente funciona por três horas diárias durante duas semanas.
2. Terapia de entonação/entoação melódica (TEM): Desenvolvido em 1973 por Robert Sparks em Boston, é baseado na perceção clínica de que alguns pacientes com afasia que não conseguiam comunicar-se pela fala “eram capazes de cantar frases”. O método baseia numa série de passos em que o paciente pratica a produção de frases com base em uma melodia artificial. Foi recomendado para pessoas com afasia expressiva e boa compreensão.
3. Terapia PACE (Promovendo a Eficácia da Comunicação da Afasia): Este método Desenvolvido por Jeanne Wilcox e Albyn Davis em Memphis, parece ser uma prática complementar muito útil na terapia da fala. Pode ser utilizado (com ajustes na escolha das imagens/fotos) em diferentes níveis patológicos. Trata-se, portanto, de melhorar as estratégias de comunicação do paciente, de combinar canais de comunicação "para tornar a troca de informações mais “efetiva”.
4. Treino de conversação: Desenvolvido por Audrey Holland no Arizona, esta estratégia visa aumentar a confiança comunicativa através da prática de conversas guiadas. Este método foi integrado a um programa de computador chamado “Aphasia Scripts”, que inclui um terapeuta virtual que auxilia a pessoa com afasia.
5. Conversação Apoiada: desenvolvida por Aura Kagan em Toronto, Canadá, a conversa apoiada é uma estratégia para melhorar a confiança comunicativa que é usada com frequência em grupos de apoio comunitário. Voluntários são treinados para conversar com pessoas com afasia.
6. Comunicação aumentativa ou alternativa: destina-se a compensar e facilitar, permanentemente ou não, dificuldades e incapacidades de pacientes com graves perturbações na comunicação (gestual, falada e/ou escrita) com meios alternativos de comunicação, possibilitando mais funcionalidade e aumentando a sua participação social.
7. Realidade virtual: Recentemente introduzida para abordar a linguagem, bem-estar ou qualidade de vida em adultos com perturbações adquiridas de linguagem, os seus resultados em afasia ainda são limitados para a gravidade do compromisso da linguagem, em comparação com a terapia de reabilitação convencional. Tem potencial e continua a desenvolver-se.
O objetivo do tratamento terapêutico em qualquer caso, é melhorar a comunicação, autonomia e qualidade de vida do paciente.
Mais recentemente, outras terapias complementares, destinadas a restabelecer o equilíbrio e função entre áreas homólogas do cérebro, alteradas pela lesão isquémica, tentam promover uma reorganização mais funcional das redes linguísticas.
Dentre elas, a Estimulação cerebral não invasiva, especificamente estimulação magnética transcraniana (EMT), atua na modulação da atividade cerebral e facilita a conetividade local e à distância, promovendo a recuperação. O acompanhamento por parte de um psicólogo e de um
neurologista, entre outros técnicos e terapeutas (por exemplo: terapeuta ocupacional), também é considerado imprescindível.
Com base nesses preceitos, a Neurovida promove a combinação intensiva dessas terapias no tratamento de afasias pós-AVC no seu programa de reabilitação NEUROTRIAD para lesões adquiridas do cérebro. Em artigos futuros, discutiremos cada categoria de tratamento da afasia.