Paralisia Cerebral: Postura, Equilíbrio e Marcha

A definição da paralisia cerebral (PC) evoluiu nos últimos anos, mas ainda assim pode ser realizada uma definição comum da condição. A definição consensual segundo Rosenbaum et al. (2007), afirma que “paralisia cerebral descreve um grupo de perturbações permanentes do desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitação da atividade e que são atribuídas a perturbações não progressivas que ocorreram no cérebro fetal ou infantil em desenvolvimento. As perturbações motoras da paralisia cerebral são frequentemente acompanhadas por perturbações de sensação, perceção, cognição, comunicação e comportamento, epilepsia e por problemas músculo-esqueléticos secundários”.

Esta definição abrange a um grupo de alterações, que no passado se atribuíam a uma lesão cerebral durante o parto, mas atualmente a percentagem de casos associados ao parto é inferior a 10%. Existem outras causas para a PC, nomeadamente: infeções intrauterinas e perinatais, hemorragia intraventricular, encefalopatia hipóxico-isquémica, acidente vascular cerebral, malformações cerebrais, doenças genéticas, entre outras (Ellenberg & Nelson, 2012).

Estas etiologias são permanentes e não progressivas, contudo, as manifestações físicas do movimento e os problemas de postura podem mudar com o tempo. Nesse sentido, a PC não é considerada estática. Por exemplo, alterações na marcha, dor, ou postura podem estar relacionadas com a PC subjacente como resultado do agravamento das contraturas, tónus mal controlado, ou subluxação ou deslocação progressiva de uma anca, etc. No entanto, não se deve presumir que os sintomas estejam relacionados com a PC sem uma investigação adequada de outras causas (Liptak & Murphy, 2011).

Índice

Quais são as limitações motoras mais comuns?

Em termos das habilidades motoras, crianças com PC podem exibir uma ampla gama de alterações motoras, incluindo: mobilidade geral, controlo muscular, coordenação motora, controlo do tónus muscular, alterações dos reflexos, alterações das capacidades motoras finas, alterações das capacidades motoras globais, postura, equilíbrio e marcha. Tudo isto leva para uma diminuição significativa da funcionalidade e autonomia, que tem como consequência um comportamento sedentário e dependente de outros (Shamir et al., 2012).

Objetivos da Fisioterapia?

Os objetivos da intervenção em fisioterapia são ajudar as crianças com PC a atingir o seu potencial máximo de independência física, obter maiores níveis de aptidão física e a melhorar a sua qualidade e das suas famílias, minimizando o efeito das suas deficiências físicas.

A nossa abordagem para o equilibrio, postura e marcha?

Podem ser utilizados vários tipos de intervenção terapêutica para maximizar estas capacidades?

 

  • Marcha: a reabilitação da marcha funcional engloba uma série de intervenções diversas, definido como a prática ativa da tarefa de caminhar, com o objetivo de melhorar esta capacidade. Pode envolver treino de marcha em superfície ou treino de marcha em passadeira. O treino de marcha em superfície pode incluir a realização da marcha em diferentes superfícies, alguma mais instáveis que as outras, treino de marcha mais dinâmicos (e.g., através da colocação de obstáculos), marcha em dupla tarefa, entre outros (Bekteshi et al., 2023). A adição de uma passadeira permite uma maior repetição da marcha num ambiente seguro e controlado, aumentando a intensidade, comparativamente com o treino de marcha em superfície. Ambos os métodos podem incorporar a utilização de varias técnicas de facilitação, como por exemplo o uso de apoio parcial do peso corporal, técnica que é utilizada para reduzir a carga nos membros inferiores, permitindo uma postura ereta e, consequentemente, a facilitação da marcha (Moreau et al., 2016).
  • Controlo postural: Na nossa abordagem ambicionamos que as intervenções sejam o mais precoces possível, pelo que realizamos, principalmente, sessões que visam promover um maior controlo postural e nas quais se realizam exercícios de fortalecimento dos músculos agonistas e antagonistas e através do uso de assentos especiais. Incluem, ainda, exercícios de estimulação e correção do alinhamento corporal na posição de pé e sentado e na utilização de auxiliares ortopédicos (La Cruz, 2017; De Araújo et al., 2020).
  • Equilíbrio: o treino de equilíbrio visa melhorar a capacidade para manter um controlo postural nas posições de sentado e em pé, de forma estática e durante a realização de tarefas dinâmicas. Este treino é constituído por estímulos e exercícios em diferentes posições e com diferentes atividades. A realização de atividades como transferências de carga entre as  ancas e pés, exercícios de alcance, estimulação e potenciação dos reflexos posturais, ensino de  estratégias perante o desequilíbrio, fortalecimento geral do corpo, treinos de coordenação motora, estimulação de trabalho em dupla tarefa são alguns dos exemplos que constituem a nossa prática clinica e que estão comprovados cientificamente como os mais eficazes para a reabilitação do equilíbrio (La Cruz, 2017; De Araújo et al., 2020; Bekteshi et al., 2023).
Conclusão

A nossa intervenção é sempre individualizada e ajustada às necessidades da criança com PC e com os familiares que a apoiam. De uma forma geral, podemos resumir a nossa prática clínica com o objetivo de manter ou aumentar a função e a participação, reduzindo simultaneamente o impacto da deterioração músculo-esquelética associada. A nossa abordagem constitui uma perspetiva funcional e baseia-se nos princípios da aprendizagem motora. Adicionalmente, o modelo de reabilitação deverá sempre englobar ao utente como mais um elemento do ambiente, pelo que a prática das tarefas é feita em cenários da vida real, com ênfase nos objetivos familiares e pessoais. Não se verifica um agravamento da paralisia cerebral com o envelhecimento da criança, mas as condicionantes associadas sim podem limitar a funcionalidade e autonomia da criança no futuro, é por isso que muito importante uma intervenção precoce e multidisciplinar, além de uma participação ativa dos elementos da familia, pois só assim conseguimos um ganho máximo de autonomia uma manutenção das capacidades.   

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Sobre o Autor

A NeuroVida é uma instituição médica de neurologia e neurociências, pioneira em Portugal, que presta atenção integrada e interdisciplinar de cuidados a doentes do foro neurológico e neuropsiquiátrico. 

A clínica conta com uma equipa de especialistas em diversas áreas interdisciplinares liderada pelo Dr. Lázaro Álvarez, neurologista e neurocientista com mais de 30 anos de experiência.

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