A Disgrafia é uma Dificuldade da Aprendizagem Específica com Défice na Expressão Escrita. Esta define-se como a dificuldade em produzir linguagem escrita, caracterizando-se pela ilegibilidade da caligrafia (forma das letras, tamanho, inclinação, espaçamento, ligação entre as letras e alteração no traçado), lentidão na escrita (velocidade e handwriting fluency), reduzida precisão ortográfica (erros ortográficos, fonológicos, entre outros), dificuldade no planeamento, clareza e organização dos pensamentos e ideias na expressão escrita, uso inadequado da pontuação e preensão do lápis disfuncional. Tendo como consequências o desinteresse nas atividades escolares, baixa autoestima, baixo rendimento escolar, dificuldade em terminar os trabalhos a tempo. As crianças com disgrafia apresentam uma letra ilegível e por vezes são vistas como “preguiçosas” por recusarem participar em atividades que envolvam escrita.
A “escrita” refere-se ao ato básico de produzir letras e palavras escritas. A aprendizagem da escrita ocorre de forma gradual durante o progresso escolar, coincidindo com a maturação do sistema nervoso central e periférico e acompanhando o desenvolvimento psicomotor.
A escrita à mão requer um conjunto complexo de funções cognitivas, motoras, psicomotoras e visuopercetivas, sendo um processo complexo e exigente. Os processos essenciais da escrita são independentes, mas encontram-se interligados.
A escrita exige funções cerebrais como a coordenação olho-mão, memória motora, perceção visual da motricidade fina, lateralidade e feedback propriocetivo que permite a consciência do movimento e da localização da mão e dedos no espaço.
A maioria das crianças desenvolvem as competências inerentes da escrita sem comprometimentos. Contudo, a presença de dificuldades na escrita é frequente em idade escolar e têm um grande impacto na aprendizagem. Estas dificuldades podem estar associadas a uma perturbação de aprendizagem específica, a Disgrafia.
A disgrafia pode surgir de forma isolada ou em comorbilidade com outras perturbações do neurodesenvolvimento como a perturbação do desenvolvimento da coordenação motora, a dislexia, discalculia, perturbação de hiperatividade e défice de atenção e a perturbação do espectro do autismo.
Os estudos de imagem indicam-nos que as alterações identificadas em indivíduos com disgrafia localizam-se nas regiões occipital e parietal, córtex pré-motor dorsal esquerdo e no cerebelo, sendo estas áreas cerebrais responsáveis pelo processamento de símbolos gráficos, organização visuoespacial da grafia e codificação do processo grafomotor da escrita.
O diagnóstico da disgrafia requer uma avaliação completa das competências motoras, fonológicas, percetuais, cognitivas e emocionais, por técnicos especializados nas áreas de Psicologia, Neuropsicologia, Terapia da Fala e Terapia Ocupacional. Este só é fiável após a entrada no primeiro ciclo, contudo os primeiros sinais de disgrafia podem ser identificados antes pelos pais e professores. As crianças com suspeita de disgrafia devem ser avaliadas para outras potenciais dificuldades de aprendizagem.
Uma intervenção regular através de uma instrução explícita da escrita está associada a uma melhoria na qualidade da escrita em crianças com disgrafia. A intervenção em casos de disgrafia deverá incidir no controlo postural, dominância manual, coordenação manual, coordenação visuomotora, coordenação olho-mão, perceção visual, preensão do lápis, correção de erros específicos do grafismo, aspetos de organização do texto, orientação da folha e cumprimento das margens e linhas. Esta intervenção deverá ser complementada com a aplicação de medidas e adaptações curriculares em contexto escolar e a adoção de estratégias tanto em casa como na escola.
Quais são as causas da Disgrafia?
A disgrafia tem três tipos de causas, sendo estas:
- Causas maturativas – Dificuldades motoras, alterações da lateralidade, alterações no esquema corporal e alterações das funções percetivas-motoras e na memória visual;
- Causas caracteriais – Associadas à personalidade da criança e fatores psicoafectivos;
- Causas pedagógicas – Associadas a um método de ensino rígido e inflexível e orientações inadequadas durante o desenvolvimento motor ou/e da aprendizagem das letras.
Sinais de alerta:
Atendendo ao impacto da disgrafia na aprendizagem é fundamental a sinalização das crianças, assim como a sua avaliação e intervenção o mais precoce possível. As manifestações da disgrafia dependem da idade da criança e nível escolar.
- As crianças em idade pré-escolar com disgrafia podem apresentar as seguintes características:
- Preensão do lápis desadequada e posição do corpo desajeitada;
- Evita atividades de desenho ou escrita;
- Cansa-se com facilidade durante as atividades de desenho ou escrita;
- Escreve letras com alterações na forma e sentido;
- Não consegue escrever ou desenhar na linha ou dentro das margens.
- As crianças em idade escolar com disgrafia também podem apresentar:
- Caligrafia ilegível;
- Alternância entre escrita cursiva e manuscrita;
- Dificuldade em encontrar palavras, completar palavras e na compreensão escrita.
- Na adolescência e na idade adulta, as pessoas com disgrafia têm dificuldades na:
- Organização escrita dos pensamentos;
- Estruturação da sintaxe e gramática;
- Confusão nas ideias escritas e na compreensão demonstrada através da fala.
Estratégias a adotar em casa e na escola:
A adoção de estratégias facilita a participação das crianças com disgrafia nas atividades que implicam escrita. Algumas estratégias que podem ser implementadas:
- Utilização de um adaptador de lápis (por prescrição);
- Realizar alongamentos com as mãos antes e durante as atividades de escrita;
- Colocar pontos coloridos nas margens das folhas (e.g. ponto vermelho na margem direita e ponto verde na margem esquerda) para identificar os limites;
- Utilizar uma regra na linha de escrita e um espaçador entre palavras;
- Fornecer tempo adicional para terminar as tarefas que implicam escrita;
- Utilizar o computador na escrita de textos mais longos;
- Utilizar folhas de escrita que facilitem a tarefa (e.g. linhas com espaços mais largos; linhas pontilhadas no meio das linhas principais)
- Facultar uma folha escrita com a informação exposta no quadro;
- Não incluir a escrita nos requisitos a avaliar nos testes.
A NeuroVida dispõe de um programa dirigido às Dificuldades de Aprendizagem: o Programa NeuroLearning. A nossa equipa pode orientá-lo no diagnóstico, intervenção terapêutica e estratégias para colmatar as dificuldades de aprendizagem consequentes da Disgrafia.
Referências Bibliográficas:
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