Entende-se por somatização a representação de queixas corporais consequentes de causas psicológicas, nomeadamente: angústia, mal-estar significativo, preocupação com a saúde, pensamentos persistentes e desproporcionais acerca da gravidade dos sintomas, níveis de ansiedade persistentes, comportamentos anormais, sendo atribuída pelos indivíduos como uma causa orgânica. A integração dos componentes afetivos, cognitivos e comportamentais aos critérios da perturbação de sintomas somáticos proporciona uma reflexão mais abrangente e precisa do verdadeiro quadro clínico.
Quanto à etiologia, a perturbação de sintomas somáticos, pode estar associada aos quadros das perturbações funcionais que cobrem um vasto conjunto de queixas, essencialmente de predominância física, assim como, as características da personalidade de afetividade negativa (neuroticismo), adversidades na infância, doença médica crónica ou perturbação psiquiátrica concomitante, stress social e fatores sociais que reforçam os ganhos secundários à patologia. Deste modo, são vários os fatores que contribuem para evolução do quadro clínico, nomeadamente: as vulnerabilidades genética e biológica (p. ex., o aumento da sensibilidade à dor), as experiências traumáticas precoces (p. ex., violência, abuso, privação) e aprendizagem (p. ex., ganhos de atenção através da doença, falta de reforço de expressões não somáticas de mal-estar). Ao nível cognitivo, o indivíduo foca a sua atenção nos sintomas somáticos, atribuindo sensações corporais normais a doença física. Os aspetos comportamentais consideráveis, incluem a verificação repetida do corpo para características anormais e/ou procura repetida de ajuda médica. E, as normas culturais/sociais que desvalorizam ou enfatizam o sofrimento psicológico quando comparado ao sofrimento físico.
A perturbação de sintomas somáticos possui comorbilidade com perturbações médicas, assim como, a perturbações depressivas e de ansiedade. A presença de uma condição de saúde crónica ou doença pode exacerbar os sintomas e o grau de incapacidade é mais marcado. Deve ser diferenciada das: perturbações de conversão, dores patogénicas isoladas, hipocondria, perturbações factícias com sintomas físicos, nas quais os indivíduos controlam voluntariamente os sintomas. Através da anamnese e dos exames auxiliares de diagnóstico e a realização do diagnostico diferencial, torna-se possível identificar o diagnóstico de Perturbação de Sintomas Somáticos.
Em termos epidemiológicos, de acordo com a American Pshychiatric Association (2013), a prevalência ronda os 5-7%, sendo mais frequentes no sexo feminino e pertencentes a um baixo nível socioeconómico.
Os indivíduos com perturbação de sintomas somáticos por norma têm sintomas somáticos múltiplos, gerados pelo stress ou que resultam numa disrupção significativa da vida quotidiana. As manifestações dos sintomas podem ser específicas, como a presença de dor localizada ou relativamente inespecíficas, como por exemplo, a fadiga.
Contudo, os sintomas mais comuns, são:
- Neurológicos: fraqueza muscular, paralisia, afonia, diplopia;
- Gastrointestinais: dor abdominal, náuseas, vómitos;
- Ginecológicos: menstruação dolorosa;
- Psicossexuais: ausência do prazer, dor durante o ato sexual;
- Cardiovasculares: respiração ofegante, dor no peito.
O que caracteriza indivíduos com a perturbação de sintomas somáticos é a frequência com que ocorre, a intensidade, os sintomas presenciados e impacto que a manifestação da sintomatologia interfere na vida dos indivíduos. Neste sentido, as representações somáticas podem ser vistas como a expressão do sofrimento pessoal inserido num contexto cultural e social.
Importa salientar que, há evidências quanto ao sofrimento do indivíduo que presencia deste quadro clínico, exista ou não um diagnóstico médico comprovado.
Como podemos ajudar?
A nossa equipa é constituída por vários profissionais de saúde, o que permite darmos uma resposta abrangente à patologia. Face à avaliação clínica, é proposto ao paciente as intervenções que mais se adaptam à causa.
Intervenção no Âmbito Psicológico:
As intervenções psicológicas são cruciais para a adaptação à doença e às exigências desta, assim como, as mudanças comportamentais a que os indivíduos se sujeitam.
Neste sentido, o papel da psicologia centra-se em:
- Aumento da consciência da experiência e do Self;
- Identificação e reconhecimento das emoções, sentimentos e pensamentos
- negativos, com o objetivo de promover a auto-regulação emocional;
- Identificação das crenças individuais e distorções cognitivas;
- Modificar condutas inadequadas;
- Aquisição de estratégias de coping adaptativas;
- Promoção da adaptação aos contextos de vida.