
Em Maio de 1868, há precisamente 150 anos, um médico e cientista francês chamado Jean Martin Charcot, descreveu e estabeleceu a esclerose múltipla como uma nova doença neurológica, crónica, auto-imune e neurodegenerativa, caracterizada por inflamação e desmielinização progressiva do sistema nervoso central.
Embora não exista actualmente um tratamento que consiga proporcionar uma cura definitiva para a esclerose múltipla, há cada vez mais medicamentos destinados a modificar o curso da doença. Além do alívio dos sintomas e das crises, estes medicamentos permitem diminuir a acumulação de lesões no cérebro e, consequentemente, diminuir o número e gravidade das áreas danificadas. A eficácia aumenta quanto mais cedo se iniciar a medicação, antes de a doença causar danos significativos.
Existem dois pilares fundamentais e complementares no tratamento da esclerose múltipla: o tratamento farmacológico e o tratamento de reabilitação/neuro-modulador, pois ainda que a medicação tenha o seu papel, a reabilitação visa melhorar e manter as capacidades funcionais dos pacientes face à progressão da doença.
A reabilitação é a estratégia mais comum para gerir os problemas encontrados no decurso da doença
Habitualmente, existem problemas que estão relacionados com fadiga, fraqueza, espasticidade, mobilidade, equilíbrio, dor, intestino, bexiga, deglutição, fala, cognição, humor, função sexual, relacionamentos interpessoais, emprego, recreação e actividades da vida diária, entre outros.
Também o uso da neuromodulação, ou a utilização de tecnologia avançada para estimular ou inibir a actividade neuronal em áreas específicas, tem-se expandido nos últimos anos.
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Pesquisas preliminares apoiam o potencial da bomba de baclofeno e da estimulação eléctrica funcional na melhoria da espasticidade e da função motora em pacientes com esclerose múltipla. A estimulação cerebral profunda pode melhorar o tremor e a nevralgia do trigémeo. A estimulação da medula espinhal mostrou ser eficaz contra a dor e disfunção da bexiga.
Outras modalidades de estimulação, nomeadamente a Estimulação Magnética Transcraniana e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, têm sido usadas com eficácia significativa, principalmente na melhoria da espasticidade, fadiga, depressão, marcha e agilidade manual. Também existem indicações de que poderão apoiar o tratamento da disfunção cognitiva na esclerose múltipla.
Até ao momento, a maioria dos estudos realizados apresenta limitações metodológicas, tais como um número pequeno de participantes, o que indica a necessidade emergente de mais investigações.
Com os recentes avanços nas terapias modificadoras do curso da doença, é hora de potenciar o foco da pesquisa na neuromodulação e restauração da função, com o fim de melhorar a autonomia e qualidade de vida de quem vive com esclerose múltipla.