A dislexia é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por um défice persistente na leitura, apesar da existência de um potencial intelectual normativo, de ambiente de aprendizagem apropriado e oportunidades educacionais completas. A sua prevalência foi estimada entre 5% a 10% em crianças com idade escolar.
Estudos recentes demonstraram que a estimulação transcraniana por corrente contínua pode ser uma ferramenta terapêutica útil para melhorar o desempenho em tarefas cognitivas, incluindo o processamento aritmético, a memória de trabalho verbal, a capacidade de atenção, e as redes da linguagem. Também estudos prévios, realizados com adultos sem dislexia, sugeriram que a técnica pode melhorar a leitura.
Face a estes estudos, foi levantada a questão sobre a utilidade da estimulação transcraniana por corrente contínua no tratamento da dislexia, e assim sendo, a possibilidade de usar a estimulação cerebral não invasiva para modular o desempenho na leitura, em indivíduos com dislexia do desenvolvimento (DD), foi recentemente explorada com resultados maioritariamente favoráveis.
Uma revisão dos estudos que utilizaram a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) anódica sobre o córtex temporo-parietal esquerdo (região tipicamente envolvida no processamento fonológico e ortográfico e que se encontra pouco activa em indivíduos com DD), mostrou uma melhoria significativa na leitura.
Outro estudo mais recente, publicado este ano, e com um grupo maior de crianças e adolescentes com DD, demonstrou que os participantes que receberam ETCC simulada não apresentaram alterações na leitura, enquanto o grupo experimental que recebeu ETCC real apresentou melhorias imediatas que se mantiveram até 6 meses após o fim do tratamento. Estas evidências comprovam o efeito positivo duradouro da ETCC combinada com treino de leitura e a ausência de efeitos colaterais a longo-prazo, o que aponta a ETCC como uma ferramenta de reabilitação útil para a dislexia (e com um tempo de tratamento curto – 18 sessões em 6 semanas).
Um último estudo publicado em Outubro, por Medeiros e seus colegas da Universidade Federal da Bahia, concluiu que o uso de ETCC em crianças e adolescentes com dislexia melhora a leitura de pseudopalavras e palavras no texto, confirmando os resultados acima mencionados e encorajando uma maior exploração dos benefícios potenciais do uso de ETCC na intervenção em jovens com dislexia.