O sistema de circulação do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) é um dos componentes bem conhecidos da circulação cerebral (existindo também o sanguíneo e o linfático – ver artigo prévio). O LCR não serve apenas para fornecer nutrientes ao cérebro, mas actua também como um amortecedor em caso de impacto.
A produção diária do LCR é de cerca de 500ml, que devem ser reabsorvidos a cada 8 horas. No caso de existir maior produção do que absorção, o LCR acumula-se no sistema de drenagem, dilatando-o – fenómeno que se conhece como Hidrocefalia.
A Hidrocefalia é então causada por uma acumulação de LCR dentro dos ventrículos do cérebro, devido a alterações na produção, circulação, drenagem ou reabsorção do LCR. É uma condição prevalente, que afecta aproximadamente 5 em cada 1000 pessoas.
É importante notar que a Hidrocefalia é mais frequente em idades pediátricas, apesar de hoje em dia já ser considerada uma doença crónica, dada a alta sobrevida destes pacientes após tratamento cirúrgico. Também em idosos a prevalência é alta, nomeadamente da Hidrocefalia Crónica de Hakim (também conhecida por Hidrocefalia de pressão normal, hidrocefalia normotensiva, hidrocefalia oculta ou síndrome de Hakim-Adams), caracterizada por demência, apraxia da marcha e incontinência urinária.
É possível demonstrar a existência da Hidrocefalia através da TAC ou da ressonância magnética, que hoje em dia já permite a visualização directa do fluxo de LCR, possibilitando detectar precocemente a Hidrocefalia.
O tratamento da Hidrocefalia é cirúrgico e tem como objectivo reduzir a acumulação de LCR, desviando-o para outra parte do corpo, ou do crânio, de duas formas: utilizando válvulas e cateteres (que é o tratamento mais comum), ou perfurando a base do III ventrículo mediante endoscopia, a fim de desviar o líquido para o espaço subaracnóideo.
Cada procedimento tem indicações precisas dependendo do tipo de Hidrocefalia, sendo o neurocirurgião o médico qualificado e competente para decidir qual destes métodos é o mas apropriado para cada doente, em cada momento.
Ao nível da reabilitação das sequelas, as pessoas com Hidrocefalia também podem beneficiar de diversas terapias. Por exemplo, quando surge na infância/adolescência, a Hidrocefalia pode deixar sequelas e limitações cognitivas, de mobilidade, equilíbrio, e fala, que podem ser melhoradas com treino cognitivo, fisioterapia e terapia da fala. Da mesma forma, também em adultos se podem melhorar os sintomas de parkinsonismo, incontinência, disartria e disfunção executiva, entre outras.