O declínio na fluência verbal ou ritmo, conhecido como gaguez, é uma perturbação da comunicação e expressão manifestada por:
- interrupção da fluência da fala com frequência incomum
- repetição e prolongamento frequente de sons, palavras ou frases
- bloqueios ou fala inadequada
Em muitos casos de perturbações da linguagem e fala é possível estabelecer uma ligação com o funcionamento cerebral, mas no caso da gaguez esta ligação não está totalmente esclarecida. Recentemente, a descoberta de uma nova via cerebral – o chamado “tracto oblíquo” – poderá ajudar a esclarecer e completar o conhecimento acerca do circuito cerebral envolvido na gaguez.
Em 2012, indivíduos saudáveis foram estudados com tractografia, e foi descoberto um novo feixe de fibras que conecta a região superior e medial do córtex frontal (conhecida como a área motora suplementar) a uma área chave para a linguagem, localizada na porção inferior do córtex frontal lateral (conhecida como circunvolução frontal inferior, ou pars opercularis da área de Broca).
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Depois da descoberta desta nova estrutura anatómica (o trato frontal oblíquo) começou a ser estudada a sua influência em vários problemas clínicos, como a afasia progressiva primária e a gaguez persistente, tendo sido verificado que o tracto oblíquo e as áreas do córtex cerebral acima referidas estão relacionadas com a intensidade da gaguez.
Em 2018, três estudos, publicados na prestigiada revista Brain, apontam mais informação.
Num estudo com estimulação eléctrica transcraniana (tDCS) anódica do córtex frontal inferior foram reportadas melhorias na gaguez após a utilização de tDCS na circunvolução frontal inferior.
Noutro estudo, foi descrito que a hiperactividade da área homóloga (circunvolução frontal inferior direita), em pessoas gagas, piora a fluência do discurso.
O estudo mais recente reporta diferenças ao nível da espessura cortical entre pessoas que recuperam a fluência e aqueles que persistem com gaguez. Estes resultados apontam para a evidência anatómica de uma alteração primária na rede cerebral da fala em pessoas com gaguez, e apontam ainda para um possível mecanismo compensatório da área motora suplementar esquerda em pessoas que recuperam da gaguez na infância.
Estes estudos permitem considerar que a modulação destas regiões por técnicas de estimulação focal transcraniana podem facilitar a recuperação da fluência verbal em pessoas com gaguez.