No passado mês de Agosto (de 2018), foi apresentada numa edição da revista JAMA Neurology, publicada pela Associação Médica Americana, uma investigação conduzida por Julius Fridriksson (um dos maiores especialistas e autoridades em Afasia) sobre o tratamento da Afasia pós-AVC com recurso à Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC).
Um ramo emergente na reabilitação do AVC que visa a reparação neuronal, tem como estratégia promover a neuroplasticidade dos neurónios sobreviventes a fim de melhorar os resultados das terapias de reabilitação. Actualmente, estão sob estudo vários tipos de terapias para a reparação do cérebro, entre elas, as diversas formas de estimulação cerebral. A ETCC tem a vantagem de ser uma técnica não invasiva, que possibilita modular a função de diferentes redes neuronais.
Na investigação de Fridriksson foram avaliados os efeitos da ETCC na função da linguagem em pacientes com vários tipos de Afasia (maioritariamente Afasia de Broca) pós-AVC. Os pacientes receberam tratamento de Terapia da Fala (TF) juntamente com ETCC activa ou simulada (placebo) que foi aplicada durante as sessões de TF. O objectivo primário era observar se a ETCC activa iria melhorar o desempenho dos pacientes comparativamente com aqueles que receberam ETCC simulada.
Efectivamente, foi observado um aumento na nomeação correcta de objectos naqueles que receberam ETCC activa (média de 13,9 palavras) face aos que receberam ETCC simulada (média de 8,2 palavras) – dados que representam um aumento relativo de 70%.
O estudo utilizou um tipo de design que foi desenvolvido para rejeitar as terapias com baixa probabilidade de sucesso, e a conclusão é que não foram encontradas evidências de que a ETCC – como utilizada nesta investigação – seja inútil.
No editorial da mesma edição da revista, Steven Cramer (especialista em reabilitação do cérebro após AVC) comenta esta investigação, referindo-se à mesma como um estudo que fornece evidências de que a ETCC associada à terapia de fala pode ser útil e que a pesquisa deve prosseguir de forma a oferecer esperança de que a função da linguagem possa ser substancialmente melhorada em indivíduos com afasia pós-AVC.