Novos caminhos da estimulação cerebral não invasiva: ultrassom focalizado de baixa frequência

A técnica de ultrassom e as suas aplicações médicas são bastante conhecidas (como a ecografia). Nos últimos anos, foram delineadas outras utilizações para o ultrassom, que abrem novas possibilidades terapêuticas para doenças neurológicas e psiquiátricas.

O uso de ultrassom de baixa frequência concentrado numa área pequena de cérebro (técnica a que se dá o nome de neuromodulação por ultrassom focalizado) permite regular o ritmo da actividade dos neurónios e assim modificar os circuitos cerebrais. Isto acontece porque os ultrassons geram uma onda que cria vibrações, fazendo com que as membranas celulares modifiquem a sua permeabilidade e activem “canais” que facilitam a passagem dos impulsos nervosos.

Esta técnica não é muito diferente, no seu efeito, de outras técnicas de neuromodulação, tais como a estimulação magnética transcraniana, no entanto tem duas diferenças fundamentais:

  • grau de precisão elevadíssimo
  • capacidade de penetração profunda

O ultrassom pode actuar com a mais alta precisão em áreas distantes da superfície do crânio (15cm ou mais). Este facto confere um grande potencial para atingir estruturas profundas do cérebro (o que não é possível com as actuais abordagens eletromagnéticas) e assim facilitar o tratamento de perturbações do movimento, com origem nos gânglios basais ou no cerebelo, ou doenças psiquiátricas com alterações do cérebro basal anterior, e inclusivamente agir sobre o hipocampo para melhorar a capacidade de memória.

Cerca de 300 artigos científicos sobre a “neuromodulação por ultrassom” foram publicados nos últimos anos, contudo, o seu uso clínico está ainda distante, em parte porque estão a tentar desenvolver tecnologias que integrem a neuromodulação ultrassónica com outras tecnologias acústicas e neurofisiológicas, de forma a aperfeiçoar esta alternativa.