A tarefa de remover substâncias residuais dos tecidos do corpo, tais como restos celulares e moléculas tóxicas, é realizada pelos vasos linfáticos. Na edição desta semana da revista Nature, o cientista português Sandro Da Mesquita* e os seus colegas do laboratório Jonathan Kipnis, na Virgínia (EUA), revelam que o cérebro também faz uso dos vasos linfáticos localizados nas meninges (as membranas que cobrem o cérebro) para remover resíduos macromoleculares nos fluídos cerebrais, o que tem implicações na cognição, no envelhecimento do cérebro, e em doenças degenerativas como o Alzheimer.
Este sistema linfático no cérebro foi encontrado pela primeira vez há mais de 200 anos, contudo, foi redescoberto em 2015 por dois grupos de investigação, o que estimulou a pesquisa para definir o papel que desempenha e para confirmar se está relacionado com a génese ou propagação de doenças, como no caso dos vasos linfáticos sistémicos.
Da Mesquita et al. demonstram que, em ratos normais, a função cognitiva reduz se os vasos linfáticos das meninges estiverem comprometidos. Estes investigadores também mostram que o envelhecimento danifica os vasos linfáticos, quer no seu diâmetro, quer na sua cobertura e função drenante, o que significa uma propensão para acumular substâncias tóxicas e desenvolver condições patológicas.
Ao trabalharem com um rato-modelo para a doença de Alzheimer, a equipa revela que, caso os vasos linfáticos meníngeos sejam rompidos, a depuração da proteína β-amilóide é prejudicada, levando à sua acumulação no cérebro, o que piora a condição do Alzheimer. Eles também observaram que, ao restaurar a drenagem, deu-se uma restauração das funções cognitivas nos ratos, associadas a uma melhoria na aprendizagem e memória.
Uma vez que a disfunção linfática das meninges pode ser um factor agravante na patologia da doença de Alzheimer e no declínio cognitivo associado ao envelhecimento, conclui-se que o aumento da função linfática pode ser uma rota terapêutica promissora para prevenir, retardar ou combater doenças neurológicas associadas à idade. Segundo estes autores, os futuros estudos irão abrir novas direcções para a investigação em cognição, neurodegeneração e doença de Alzheimer.