A Fibromialgia é uma síndrome de dor crónica e fadiga, geralmente associada a perturbações do sono, depressão e redução da qualidade de vida, que ocorre predominantemente em mulheres na faixa etária dos 30-60 anos, e que, até a data, tem vindo a ser tratada com medicação ou procedimentos com efeito analgésico.
Há mais de um século (Gowers, 1904) que a Fibromialgia tem vindo a ser reconhecida na medicina, contudo, apenas em 1990 se estabeleceram os critérios para o seu diagnóstico pelo American College of Rheumatology (Wolfe et al.). Ainda hoje, o conhecimento das origens da doença permanece escasso e as opções terapêuticas para o seu tratamento são apenas parcialmente eficazes no alívio sintomático a curto/médio-prazo.
No entanto, e dado que as evidências científicas confirmam que a Fibromialgia tem a sua origem numa disfunção na actividade cerebral relacionada à regulação da dor e das emoções, existe uma técnica, investigada há mais de 12 anos, que provou a sua segurança e possível eficácia no alívio dos sintomas da Fibromialgia a longo-prazo: a Estimulação Transcraniana com Correntes Fracas.
Por alguma razão ainda desconhecida, o cérebro das pessoas afectadas por esta doença sofre uma alteração na “interpretação” dos impulsos dolorosos e, como consequência, responde inadequadamente aos estímulos sensoriais e produz uma reacção em cascata que facilita outros sintomas igualmente incapacitantes, além da dor, tais como os distúrbios do sono, dores de cabeça, fadiga, esquecimentos, cólon irritável, depressão, entre outras comorbilidades.
Desta forma, a Estimulação Transcraniana com Correntes Fracas no tratamento da Fibromialgia tem como objectivo modificar o padrão de actividade da rede neuronal de regulação da dor, através da passagem de uma corrente fraca (geralmente 1-2 mA) através do cérebro, entre dois eléctrodos.
Esta tecnologia comprovou, em mais de 3000 pacientes, a sua total ausência de efeitos adversos, com excepção de um avermelhar local da pele e, ocasionalmente, formigueiro. Além de ser completamente indolor e de não apresentar outros efeitos colaterais associados aos medicamentos, como a tolerância e a dependência.
Na parte 2 deste artigo iremos apresentar os resultados de vários estudos, decorridos durante a última década, sobre o uso da estimulação cerebral não-invasiva no tratamento da Fibromialgia.