Num artigo publicado na edição da revista Neuron deste mês (Julho de 2018), falou-se da descoberta de um aumento de três cepas virais do herpesvírus (que provoca herpes labial ou roséola) no cérebro de pacientes com Doença de Alzheimer (DA). Na mesma edição desta revista, é relatado que estes vírus podem “induzir” alterações proteicas do tipo DA em ratinhos.
No primeiro artigo (Readhead et al., 2018), os cientistas da Escola de Medicina de Mount Sinai, em Nova Iorque, relatam que observaram níveis elevados do vírus do herpes nos cérebros de pessoas que tiveram doença de Alzheimer. De acordo com o estudo, duas estirpes de herpes (HHV6 e HHV7) poderiam induzir a expressão de mecanismos que favorecem as vias metabólicas que estão normalmente associados com a DA, o que sugere um papel importante do herpesvírus na etiologia da DA. Estes achados foram replicados em outras duas coortes independentes.
No segundo artigo (Eimer et al., 2018), foi demonstrado que em ratinhos transgénicos infectados com herpesvírus há sínteses anormais da proteína beta-amilóide (proteína que se encontra acumulada no cérebro de doentes com Alzheimer). Uma vez que a beta-amiloide é uma proteína da imunidade inata, que protege contra infecções fúngicas e bacterianas, a presença do herpesvírus pode acelerar drasticamente a deposição da beta-amilóide. Esta pesquisa sugere um mecanismo etiológico da DA em que a infecção por herpesvírus pode promover directamente a hiperprodução anómala desta proteína e “induzir” a doença.
Numa recente revisão científica sobre este mesmo assunto, é explicado que os herpesvírus humanos (HV) desenvolveram mecanismos engenhosos para atravessar as defesas do sistema nervoso central e introduzir um estado de dormência que lhes permite persistir no hospedeiro humano indefinidamente. No caso dos HV, estes representam os patógenos detectados mais frequentemente no cérebro logo a partir dos 2 anos de idade. Os autores desta revisão afirmam que neste momento há evidências clínicas suficientes para apoiar a existência de uma associação entre esses vírus e a DA, tanto no seu início como na sua progressão.
Esta hipótese infecciosa viral devido ao herpesvírus na etiologia da DA é extremamente importante, uma vez que desenvolvendo um medicamento antiviral que interrompesse os efeitos tóxicos do herpesvírus em células neuronais, este poderia desempenhar um papel na prevenção e no tratamento da DA. Da mesma forma, e apesar de ainda não se ter desenvolvido uma vacina contra o herpesvírus humano, esta seria uma forte candidata na prevenção da DA.
Estas novas evidências que sustentam a hipótese do papel dos vírus neurotrópicos na neuropatologia da DA são muito bem-vindas, tendo em conta que cada vez existe mais consciência da magnitude e do impacto da doença de Alzheimer.